quinta-feira, 15 de maio de 2008

Minha invasão aqui.

Tenho dois filhos muito distintos.
Falo isso o tempo todo pra eles, porque a lei é para todos, mas uns(os que são mais espertos), se adaptam mais fácil e argumentam melhor e outros(os teimosos) passam o tempo a nos azucrinar e armar berreiros típicos de Veruca(A Fantástica Fábrica de Chocolate).
Como eu estava pensando nisso, me veio um vazio muito grande.
Se hoje eu pudesse falar com a minha mãe por apenas 5 minutos e obter respostas, só gostaria de saber que tipo de filha eu fui. Sei que fui uma criança levada, tenho marcas pelo corpo pra provar, sei que fui teimosa, sei que era faladora porque lembro de em algum momento me pedirem pra ficar quieta, sei também que não gostava muito de pessoas, que tinha um mundo só meu e morria de modo de gente morta. Mas não sei que tipo de filha eu era e isso me dá um vazio danado.
Não sou muito do tipo saudozista, que as vezes suspira um"Ai que saudade!", porque gosto de resolver tudo no seu tempo, não que saudade não seja algo bom, mas normalmente quando alguém fala que está com saudade de algo ou alguém parece algo inatingível, gosto do que tenho agora.
Mas me deu esse vazio: Como eu era como filha??
Minha mãe deixou esse mundo quando eu ainda tinha 20 ano, faltava 3 meses pra eu completar 21, na época eu jurava por Deus que a filha favorita da minha mãe era minha irmã, que depois eu conversando com minha irmã achava que era eu, e agora tendo filhos posso dizer que erámos todos favoritos.
Minha mãe era muito forte, uma dessas mulheres que passou por tudo na vida e deu a volta por cima, tinha uma sabedoria única, e engraçado porque converso com minhas tias que fisicamente são muito parecidas com minha mãe e não vejo nada dela, minha mãe era um passo a frente de tudo.
Quando minha mãe tinha 38 anos perdeu um filho com 16 anos. Foi aqui que superei meu medo de gente morta...
E ela deu a volta por cima.
Sofria mas sorria. Ela era assim.
Nunca lamentou, pelo menos não na nossa frente a falta que ele fazia, e devia fazer muito, porque quando o Pedro teve a convulsão me senti sem chão e nos 20 segundos que durou, pensei nela.
Com 46 anos ela se foi, não chegou a conhecer a primeira neta, que nasceu 40 dias após ela partir. Não conheceu nenhum dos seus 9 netos, 4 meninas e 5 meninos. Não sei como ela seria como avó, mas gostaria de ter sabido, enquanto minha cunhada estava grávida, minha mãe foi uma vó coruja discreta. Não dava pitacos mas comprava presentinhos. Interferiu bonito no nome da minha sobrinha, que era pra se chamar Giovana, Camila ou sei lá o que e acabou sendo AMANDA MARINA, o Marina em homenagem a ela. Meu irmão tem dessas coisas... E é lindo isso porque ele sabe homenagear, em vida e na morte, aprendeu com minha mãe. Mas isso eu conto uma outra hora.
Sei que eu era respeitosa, chamei ela de senhora até os meus 16 anos, depois fiquei sem-vergonha, aprendi também a dar de ombros e isso a irritava muito mas foi muito antes dos 16 acho que com 8. Sempre levei muito em conta o que ela falava. Uma vez ela falou que estava decepcionada comigo porque eu não voltei de uma viagem na data marcada e eu tinha que trabalhar na tal data, e pra mim foi o fim. Chorei.
Sei que a fazia rir, ela sempre brincava comigo dizendo que eu devia fazer ''arte cinícas" e não cênicas e sem ser perjorativa, apenas porque eu chorava quando ela me pedia, pra ganhar um sorvete por exemplo. Gostava também quando eu dançava, acho que nisso eu realizava ela, sempre fui sem-vergonha e mesmo sem dominar a arte adoro dançar.
Mas não sei que tipo de filha eu fui.
Mas sei que tipo de mãe estou me transformando, sei meus pontos fortes e outros menos fortes, sou assim um pouco dela e um pouco de mim.

Um comentário:

Marsyah disse...

Olá Sônia!!
Obrigada pela visitinha!!

A minha pergunta pra minha mãe seria diferente. Seria: "Que tipo de filha eu sou?"

Confesso que morro de medo da resposta. rsrsrs

Bjux querida!